POEMAS ESCOLHIDOS

VOZES VELUDÍNEAS

Francisco Deliane

vozes veludíneas
roubaram o silêncio
a quietude da prece
esfacelou-se
estilhaços da razão
romperam o
verso
no limiar inverso do existir 
e o amor
persistente
(como só o verdadeiro amor o é)
Quedou-se   
ali no quarto
vendo tudo
ouvindo nada
vivenciando apenas
gemidos guturais
sons
gritos e ais
do  amor em execução
que se realiza
quando a carne se atrai.





SEM PESO, 

SEM CENSURA, 

SEM MEDIDA.

Francisco Deliane


com raios fulgurantes de sol
bordarei as vestes da tua tristeza
e rindo mostrarei  os dentes
que rasgaram os versos
que eu ainda não disse
e estraçalhados retornaram ao peito
onde, aprisionados, se fizeram gemidos
de versos abortados
transfigurados
na insensatez do amor
irrealizado e triste.

com raios de luar
bordarei o leito
onde vais deitar
e meu peito alegre
com  o teu chegar
libertará o verso
como fosse um mantra
reiteradamente
repetidamente
- "como é bom amar"
- "como é bom amar"
- "como é bom te amar".
e no encontro do raio de sol com o do luar
amor se fará
sem peso, sem censura, sem medida. 






















DUAS ALMAS


Francisco Deliane


Amei teu corpo, ébrio de desejo. Teu seio alimentou-me
Carinhosamente senti tuas pernas entrelaçadas as minhas,
Porém, teu corpo, qual flor, antes ardente, desidratou-se,
Empalideceu, perdeu a cor, enrijeceu. Calou-se.

Veio o esquife, levou teu corpo, deixou a dor.
Ao amar teu corpo, amei, também, tua alma,
E esta, o esquife não levou. Ficando assim, definitivamente,
Gravada em mim, ardentemente, tua doce presença de amor.

Ficou assim, tatuada em mim, tua dolorida ausência de amor,
Tortura imensurável, sem medida, imposta a quem ama.
A cremação consumiu teu corpo, mas tua alma clama.

Para que este amor infinito, insano e inacabado,
Seja enfim plenamente renovado, quando te reencontrar,
Alma feita de distância que tanto quero novamente amar.


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