segunda-feira, 26 de agosto de 2013

VOCÊ CONHECE O CEARENSE ANTONIO BANDEIRA?

ANTONIO BANDEIRA PRECURSOR DA ARTE ABSTRATA NO BRASIL



O artista cearense Antonio Bandeira (1922/1967), É considerado um dos dez maiores pintores brasileiros e, certamente, o maior de sua geração, na verdade é um dos precursores da arte abstrata no Brasil, apresenta um conjunto de 70 obras, entre aquarelas, desenhos e pinturas. Artista pertencente à corrente abstracionista, sua arte é apaixonante. Influenciou gerações de artistas, bebeu na fonte do cubismo, do surrealismo e do expressionismo, ao mesmo tempo em que trata estas referências de uma forma absolutamente pessoal, realizando uma verdadeira “antropofagia pictórica”.


A obra intitulada de "Castelo, Lago e Cisne" foi pintada quando o artista ainda era adolescente, tinha a época apenas quinze anos, e hoje integra o acervo da família.



Antonio Bandeira, nasceu no Ceará em 1922. Aos 20 anos participou ativamente da cena artística em Fortaleza, com Aldemir Martins, Inimá de Paula, Mário Barata e Raimundo Cela criam o Movimento Modernista de Fortaleza, findo o grupo, enviou um trabalho para o Salão Paulista de Belas Artes no qual foi premiado com a medalha de Bronze. Morou no Rio de Janeiro por um ano, participando ativamente da vida intelectual da cidade. Voltou para Fortaleza em 1945 quando recebeu uma bolsa de estudos do governo francês e mudou-se para Paris. 




Sobre a obra do artista, Mário Barata diz que era “um revolucionário em arte. Leva uma bagagem onde há coisas notáveis. O desenho de Bandeira nada tem de educado, de estudado, é espontâneo, livre, audacioso. A paleta nunca é fixa, mutável como os assuntos. O que mais existe nos trabalhos de Bandeira é poesia, esta sim, perene”.




Com o golpe militar de 1964, o artista retornou a Paris, onde morreu em 1967, em virtude de anestesia utilizada em uma operação cirúrgica nas cordas vocais.



sábado, 24 de agosto de 2013

PARTICIPE DA SELEÇÃO DE CONTOS "PRESENTE DE NATAL". LEIA O REGULAMENTO
Mi esposa desnuda (1945)
 Óleo sobre tela 42 x 32 cm.
Fundación Gala-Dalí. Figueres
Autor: Salvador Dalí

PARTICIPE DA SELEÇÃO DE ESCRITORES QUE INTEGRARÃO A ANTOLOGIA DE CONTOS "PRESENTE DE NATAL".

LEIA O REGULAMENTO AQUI NO BLOG, BASTA CLICAR NA ABA CORRESPONDENTE.
Salvador Dalí, marqués de Dalí y de Púbol (Figueras, 11 de mayo de 1904 – ibídem, 23 de enero de 1989) fue un pintor, escultor, grabador, escenógrafo y escritor español, considerado uno de los máximos representantes del surrealismo.

PARTICIPE DA SELEÇÃO DE CONTOS "PRESENTE DE NATAL"


PALAVRAS E IMAGENS

Palavras e imagens: as brechas


As palavras produzem imagens e as imagens produzem palavras. Ao fazermos a leitura de um texto escrito, conto, romance, poema, crônica, notícia de jornal, crítica literária, ou de outra tipologia textual qualquer, temos a capacidade de formar, em nosso cérebro, imagens mentais de personagens, de locais (espaços), de situações, de tempo cronológico ou psicológico etc. Através da leitura constante de obras e de textos (inclui-se também o hipertexto da cibercultura), temos a possibilidade de abstrairmos sobre diversos assuntos, de despertarmos a nossa criatividade, de ampliarmos o nosso vocabulário, de rechearmos de novidades os nossos horizontes intelectuais, principalmente, pela compreensão dos significados que as novas palavras produzem em nós e, ainda, em relação ao sentido que elas estabelecem nos vários contextos. Podemos, assim, refletirmos acerca de conflitos existenciais, psicológicos, sociais, econômicos e assim por diante.

Por outro lado, tudo que é passível de leitura constitui-se em um texto. Então, não necessariamente um texto tenha de passar unicamente pela língua escrita. A linguagem pode ser verbal ou não-verbal. As imagens nas revistas, nos filmes, na Internet, nos cartazes publicitários, na televisão, nos jornais, nas paredes, nos cenários teatrais, ou seja, em todos os locais onde apareçam, ficam sujeitas a muitas decodificações por todos nós. E é aí que entra aquela questão de aproveitar bem todos os momentos, para inferirmos a respeito das circunstâncias vividas e crescermos, aguçarmos a nossa maturidade, mesmo que isso venha a acontecer através de fatos negativos, que precisam ser re(elaborados) para darem novos sentidos à nossa existência. Ou seja, devemos ler tudo o que nos rodeia, ler a vida por si mesma.

Em relação às imagens, no momento em que as fixamos pelo olhar, formamos uma ideia a seu respeito e sintetizamos em nosso cérebro alguma informação sobre o seu conteúdo. Depois, para expressar aquilo que concluímos, utilizamos as palavras (falada ou escrita), fazendo a exteriorização de nosso pensamento, que não é neutro, nunca foi e jamais será, pois que ‘neutralidade’ é ‘mito’, e mito é construção histórico-cultural-ideológica. Por assim dizer, essas palavras serão e estarão sempre carregadas de ‘saber’ e de ‘poder’, num movimento recíproco de troca constante. As palavras têm poder, as imagens têm poder, nós temos poder, mas, para muitos, infelizmente, essa consciência do seu próprio poder não está atrelada à sua própria existência, e sim a cargos políticos, chefias de empresas e de instituições estatais em geral. Dessa forma, as pessoas transferem aos seus representantes, aos seus ditos ‘superiores hierárquicos', o seu poder para que eles cuidem delas e deste, neutralizando-o, imobilizando-as para a ação, para a mudança necessária. Essas palavras explicam o assunto de agora, e quantas imagens estamos formando a partir delas?

Está mais do que na hora de insurgirmos contra esse sistema de ‘palavras’ e ‘imagens’, desconectadas, que subtrai do ser humano a sua capacidade de auto-organizar-se e de gerenciar livremente a sua própria vida e o seu entorno. Somos escravos de uma sociedade totalmente consumista e alienante. Para que nos libertemos de crenças, tabus, heranças ideológicas que estão no imaginário do povo, teremos que aprender a fazer um exercício: o da desconfiança. Teremos que aprender a ler interpretando as palavras e as imagens, estejam onde estiverem. Mais do que isso, teremos que aprender a ler o que subjaz a essas palavras e a essas imagens, principalmente as dos anúncios publicitários e às das propagandas ideológicas (partidárias ou não). O que é bom não precisa ser anunciado publicitariamente, nasce de forma espontânea no calor das ações solidárias, no comprometimento com a felicidade do outro e com a de si mesmo. Brota com o ‘cuidado de si’ e com o cuidado do planeta.

Não é isso que observamos socialmente, entretanto nem tudo está perdido. Temos de formar resistências. O meu blog, Palavras e Imagens, através das palavras associadas às imagens e vice-versa, procura ter as funções metalinguística, sociolinguística, psicolinguística, ou seja, entre outras, a de explicar pelas entrelinhas dos textos os ideais de uma sociedade justa e fraterna. Eu, como professora de Literatura e recentemente ‘blogueira’, além de querer contribuir com o ‘encantamento do mundo’, preciso fazer o meu papel político, exercer o meu saber-poder em um espaço, que eu considero ser uma ‘brecha’, para lutar por uma sociedade libertária. Essa questão fica bem explícita através das temáticas que são abordadas em meus textos. Todavia, nunca fecharei nenhuma discussão, porque as respostas deverão ser encontradas por todos nós, que temos interesse em alterar este ‘estado de coisas’ que vivenciamos (individualismo, egoísmo, desumanidade), por meio de nossas ‘subjetividades’, como diz Foucault, e de acordo com a nossa bagagem cultural, experiências e sensibilidade, como digo eu.

Beijos a todos.

Tânia Marques

CRÔNICA, CONTO, ROMANCE, NOVELA...

CRÔNICA, CONTO, ROMANCE, NOVELA...

Airo Zamoner*



Você sabe diferenciar? 
Todos nós, autores novos e não tão novos, vez por outra, sentimos imensas dúvidas para enquadrar em um desses gêneros e sub-gêneros, nossa criação literária.

É bom não esquecer o interminável debate que remonta à República de Platão e que deságua hoje num certo consenso sobre a existência de dois gêneros, poesia e prosa, seguido de subdivisões, como poesia lírica, épica por um lado, e conto, novela e romance por outro.

Os especialistas no assunto, e é bom esclarecer que não sou um deles, tentam explicar tudo isso. A gente lê, relê e acaba ficando com as mesmas interrogações. Nesse artigo posso perturbar o academicismo dos especialistas, mas pretendo dar minha visão como escritor, de forma objetiva, prática e principalmente didática, arriscando sofrer a crítica que me mostrará as imensas teses, tratados, ensaios sobre cada um desses gêneros. Provavelmente dirão: "Que pretensioso esse escritorzinho, hein?". Assim mesmo, revolvi correr o risco e me antecipar à crítica. Meu endereço está disponível e prometo responder educadamente a todos.

Se consultarmos algum dicionário de termos literários, teremos algo assim:

Crônica, vem do Grego, krónos, que significa "tempo" e do Latim, annum, ano, ou ânua, significando, "anais".

Poesia também do Grego, poíesis, que quer dizer, "ação de criar alguma coisa".

Conto, do Latim computum, ou seja, "cálculo, conta", ou do Grego kóntos, "extremidade da lança", ou commentum, "invenção, ficção".

Romance, do Latim romanice, que quer dizer, "em língua românica".

Poema, do Grego, poiema, significando "o que se faz".

Novela, do Latim, novellam, ou seja:, "nova 

É... por aí, não vamos poder ter grandes esclarecimentos...

Vamos aglutinar alguns termos para simplificar a variedade em três:

1. Poesia, poema

2. Crônica

3. Conto, novela, romance, poesia, poema

Poesia, poema 

Se consultarmos Octavio Paz, El Arco y la Lira, 1956 p.14, encontramos sobre Poema: a afirmação, "um organismo verbal que contém, suscita ou segrega poesia"

Massaud Moises em seu fabuloso Dicionário de Termos Literários, afirma: "Assumida ortodoxalmente, a conexão entre poema e poesia implicaria um juízo de valor, ainda que de primeiro grau: todo poema encerraria poesia, e vice-versa." E mais adiante: "...existem poemas sem poesia, e a poesia pode surgir no âmbito de um romance ou de um conto". Acho mais esclarecedor o que Jean Cohen em sua Structure du language poétique, 1966, p.207, afirma: "...precisamente uma técnica linguística de produção dum tipo de consciência que o espetáculo do mundo não produz ordinariamente".

Claro que essas citações ajudam muito pouco. Vamos tentar mais praticidade e ser menos acadêmicos.

Em primeiro lugar devemos compreender que a questão formal não caracteriza a poesia. Fazer versos não é fazer poesia. Aristóteles já alertava que o uso do verso não torna ninguém um poeta.

Em segundo lugar, poemas e poesias serão reconhecidos pelos seguintes fatores:

1. Um poema ou poesia é carente de lógica, pois seu conteúdo tem que ser intrinsecamente, as emoções do "eu"

2. Não existe relação passado, presente, futuro. Existe unicamente um presente eterno. Daí ser possível reconhecer um poema, poesia pelo turbilhão de metáforas. Metáforas intercaladas num círculo vicioso, onde a palavra do final volta para a palavra inicial.

3. Não existe narração num poema ou poesia. Numa poesia não há fatos, e sim estados. Não há enredo. Deve conter as situações que povoam o "eu" do poeta, um ser solitário e conflituoso.

Resumindo: vamos reconhecer uma poesia, ou um poema, não pela presença de versificação mas sim se:

1. Não obedecer à lógica formal
2. Contiver as emoções do "eu" do autor
3. Não for cronológico
4. Não contiver narrativa

Crônica

A crônica se destina a publicação em jornal ou revista. Por isso mesmo, já se pode deduzir que deve estar relacionada com acontecimentos diários. Se diferencia evidentemente da notícia, pois não é feita por um jornalista e sim por um escritor, mas se aproxima de sua forma. É o acontecimento diário sob a visão criativa do escritor. Seus personagens podem ser reais ou imaginários. Não é mera transcrição da realidade, mas sim uma visão recriada dessa realidade por parte da capacidade lírica e ficcional do autor. Normalmente, por se basear em fatos do cotidiano, ela tende a se desatualizar com o passar do tempo. Nem por isso deixa de perder seu sabor literário quando agrupamos um conjunto delas em um livro.

O cronista é essencialmente um observador, um espectador que narra literariamente a visão da sociedade em que vive, através dos fatos do dia-a-dia.

Conto, novela, romance

Acho que a primeira coisa que devemos tirar da cabeça é aquela história de que a diferença entre esses três gêneros é a quantidade, ou seja, o conto é curto, a novela, mais ou menos, e o romance é longo. Nada disso é verdadeiro. Existem novelas maiores que romances e contos maiores que novelas.

Onde está a diferença?

Gosto muito do conceito de unidade dramática, ensinado pelo eminente doutor em Literatura professor Vicente Ataíde que denominamos de"Célula Dramática" e que passo a utilizar para uma boa compreensão do assunto.

O Conto contém apenas um único drama, um só conflito. Esse drama único pode ser chamado de "célula dramática". Uma célula dramática contém uma só ação, uma só história. Um conto é um relâmpago na vida dos personagens. Não importa muito seu passado, nem seu futuro, pois isso é irrelevante para o contexto do drama, objeto do conto. O espaço da ação é restrito. A ação não muda de lugar e quando eventualmente muda, perde dramaticidade. 

O objetivo do conto é proporcionar uma impressão única no leitor.

Podemos, pois, resumir em quatro os ingredientes que caracterizam o conto:
Uma ação
Um lugar
Um tempo
Um tom.
Em outras palavras, um conto contém uma única Célula Dramática.

Cabe aqui ressaltar alguns tipos específicos de contos como a fábula, o apólogo e a parábola.

Fábula - Protagonizada geralmente por animais, pretende encerrar em sua estrutura dramática alguma "moral" implícita ou explícita.
Apólogo - Protagonizado geralmente por objetos que falam, também como a fábula, pretende conter uma "moral", implícita ou explícita.
Parábola - Narrativa curta, pretendendo conter alguma lição ética, moral, implícita ou explícita, diferenciando-se da fábula e do apólogo, por ser protagonizada por pessoas.

Voltando, contudo, ao Conto em geral, e entendido esse conceito de Célula Dramática, podemos mais facilmente compreender o que é uma novela. Uma novela nada mais é que uma sucessão de Células Dramáticas, como se fossem arrumadas em uma linha reta infinita. Face a essa estrutura é sempre possível, acrescentar mais uma Célula Dramática, mesmo depois de terminada a novela.

Com esse conceito de "arrumação", podemos compreender a diferença entre uma novela e um romance. Essa diferença está na forma como as células estão dispostas. Num romance, elas estão concatenadas, formando um círculo. Uma estrutura fechada. Uma sucessão lógica com um encerramento definitivo. Seria impossível acrescentar mais uma Célula Dramática, depois de terminado um romance.

Consolidando as idéias:

Um Conto é uma narrativa ficcional contendo uma única Célula Dramática.

Uma Novela é uma narrativa ficcional contendo uma sucessão linear de Células Dramáticas.

Um Romance é uma narrativa ficcional contendo uma sucessão circular fechada de Células Dramáticas.

Espero ter contribuído para trazer mais objetividade e lógica no enquadramento de nossas criações, nas diversas famílias dos gêneros literários. 

* Airo Zamoner - Sociólogo pela Universidade Federal do Paraná, Jornalista, radialista por muitos anos, voltou-se para o magistério de matemática. Dirigiu escolas públicas por mais de dez anos. A faculdade de Direito foi interrompida por duas vezes e por fim abandonada, face às contingências da vida familiar. A tentativa de formar-se em Física também foi abortada. Concluiu pós-graduação em Análise de Sistema, na FAE. Entre várias empresas, fundou o Cepedê-Informática Pedagógica e, posteriormente, a Editora Protexto.

O QUE É “PASÁRGADA”?

O que é “Pasárgada”?

Manoel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada 



Vou-me embora pra Pasárgada 
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada 



Vou-me embora pra Pasárgada 
Aqui eu não sou feliz 
Lá a existência é uma aventura 
De tal modo inconseqüente 
Que Joana a Louca da Espanha 
Rainha e falsa demente 
Vem a ser contraparente 
Da nora que nunca tive 

E como farei ginástica                         
Andarei de bicicleta 
Montarei em burro brabo 
Subirei no pau-de-sebo 
Tomarei banhos de mar! 
E quando estiver cansado 
Deito na beira do rio 
Mando chamar a mãe-d`água 
Pra me contar as histórias 
Que no tempo de eu menino 
Rosa vinha me contar 
Vou-me embora pra Pasárgada 

Em Pasárgada tem tudo 
É outra civilização 
Tem um processo seguro 
De impedir a concepção 
Tem telefone automático 
Tem alcalóide à vontade 
Tem prostitutas bonitas 
Para a gente namorar 

E quando eu estiver mais triste 
Mas triste de não ter jeito 
Quando de noite me der 
Vontade de me matar 
-Lá sou amigo do rei- 
Terei a mulher que eu quero 
Na cama que escolherei 
Vou-me embora pra Pasárgada. 


(Estrela da vida inteira, cit., p. 127-8.) 

Rosa: mulata que serviu de ama-seca a Manuel Bandeira e a seus irmãos quando meninos. 

alcalóide: substância química encontrada Nas plantas que, entre outros fins, serve para a fabricação de drogas. 

É o próprio Bandeira quem explica: 

“Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...].




A POESIA LÍRICA ALGUMAS REFLEXÕES

A poesia lírica algumas reflexões


por Dalberto Teixeira*


O que é a poesia? São muitos os poetas e críticos que tentaram responder a essa pergunta. Mário Quintana, inclusive, ao ser questionado sobre o assunto, confessa que, apesar de estar há tanto tempo fazendo poesia, ficou embaraçado ao dar uma resposta.Somente para ter uma ideia, vejamos algumas definições dadas por poetas e críticos e citadas por Pedro Lyra em seu livro Conceito de Poesia (São Paulo: Ática, 1996, p.5-6):
Mário Quintana 
Nascido em 1906 e falecido em 1994,
Mário Quintana foi poeta e tradutor.
Em sua obra poética, destacam-se
temáticas como a morte e o fim da infância,
 sempre marcados por sua ironia.
Era conhecido como
“o poeta das coisas simples”.
Nunca foi aceito na
Academia Brasileira de Letras e,
após a terceira tentativa, compôs
 o Poeminha do Contra,
um de seus mais famosos textos.

“mensagem voltada para a mensagem” (Roman Jakobson)
“um fingimento deveras” (Fernando Pessoa)
“design da linguagem” (Décio Pignatari)
“se faz com palavras e não com idéias” (Mallarmé)
“emoção recolhida com tranqüilidade” (Wordswrth)
“palavras olhando para si mesmas” (Cecília Meireles)
“ uma viagem ao desconhecido” (Maiakovski)
“ o que o meu inconsciente me grita” (Mário de Andrade)
“permanente hesitação entre som e sentido” (Paul Valery)
“ a liberdade da minha linguagem” (Paulo Leminski)
“a descoberta das coisas que eu nunca vi” (Oswald de Andrade)
“ a ida ao desconhecido para encontrar o novo” 
(Baudelaire)

A essas definições poderíamos acrescentar a de Rabelais, segundo a qual “a poesia é a virtude do inútil”, ou um conjunto de inutilidades, na expressão de Manoel de Barros.

Segundo essa visão, a poesia não serviria para nada, e é justamente por isso que é poesia. Se servisse para alguma coisa útil, como comprar, vender, trocar, não seria poesia, seria uma moeda, um objeto, um instrumento ou outra coisa qualquer. A poesia basta a si mesma, não é comunicação, mas expressão. Não comunica nada, não ensina nada, não é uma filosofia, uma ciência, uma doutrina.

Isso não significa que a poesia não seja uma forma de conhecimento, mas trata-se de uma forma de conhecimento muito específica, singularizada. Existem várias formas de conhecimento, fornecidas pelos mais diversos ramos do saber: a ciência, a filosofia, a religião. Uma depende da pesquisa, da investigação, outra depende da reflexão, outra depende da fé e assim por diante. A poesia também é uma forma de conhecimento, mas um conhecimento poético da realidade.

O que significa esse conhecimento poético da realidade? Vejamos: nós conhecemos apenas uma parcela da realidade, que apreendemos pela razão, pela reflexão, pela investigação. Dessa forma, a nossa apreensão do mundo se faz por meio de conceitos. Em vez de sentir o mundo, nós “pensamos” o mundo. O “pensar” substituiu o “sentir”.

Assim, a função da poesia é a de resgatar a nossa percepção de mundo e tornar sensível, erótica a relação com os seres e as coisas. E isso somente se consegue por meio de uma desfamiliarização do olhar.

Nesse sentido, vale citar uma passagem de um ensaio intitulado A arte como procedimento, do formalista russo Chklovski: “E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte”. Trata-se de olhar para as coisas como se as estivéssemos vendo pela primeira vez, ou, como diria Oswald de Andrade: “Aprendi com meu filho de oito anos que a poesia é a descoberta das coisas que eu nunca vi”.

Isso nos leva a descobrir uma outra realidade, que não está condicionada pelos nossos hábitos, pelas convenções, pelas ações repetitivas. Trata-se de uma realidade que não está além, mas aquém. É anterior à linguagem, aos conceitos, à nomeação.

Vejamos: as origens da poesia e da arte de uma maneira geral remetem a um mundo mítico e tem ligações com o modo de o homem primitivo e a criança conceberem o mundo.

Por exemplo: como o homem primitivo concebia o mundo? Por meio de analogias. Assim o sol seria uma bola de fogo, as estrelas pedras brilhantes, o vento um espírito e assim por diante. Por isso que o poeta se assemelha muito com o homem primitivo, com a crianças, porque a percepção do mundo não se faz por meio de conceitos, mas por meio de imagens

Existem diversas formas de conhecimento, fornecidas por vários ramos do saber: ciências, filosofia, religião. A poesia também é uma forma de conhecimento: um conhecimento poético, específico, singularizado da realidade

Nesse sentido, vale citar um poema em prosa de Mário Quintana em Literatura Comentada. Mário Quintana (São Paulo: Nova Cultural, 1988, p. 123- 124), que ilustra muito bem as duas concepções de mundo, a convencional e a poética:

Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa. Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas? Com algum ciclista tombado? Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo? E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará. E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira... E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.

Nesse texto , um simples objeto, um par de óculos, que tem uma função unicamente utilitária, ou seja, para enxergar melhor, perde a sua função instrumental e se transforma num objeto de contemplação estética. Estamos, assim, diante de um conhecimento poético da realidade, ou seja, o conhecimento que o homem primitivo tinha do mundo e a criança possuía antes de se tornar adulta. Assim que nos
tornamos adultos, ficamos cada vez mais racionais e começamos a perder o contato sensível com tudo o que nos cerca. É o domínio da razão, da lógica, da busca pela verdade.


Mas a verdade destrói o belo, porque o belo está nesse olhar sensível que lançamos para os seres e as coisas. Por exemplo, dizer que a lua é a enamorada do sol encanta mais do que dizer que ela é o satélite da terra.

O mundo é belo antes de ser verdadeiro, porque o conhecimento poético precede o conhecimento racional dos objetos. Nesse sentido, vale citar essa frase de Nietzsche: “A beleza é melhor que a verdade”.

Então, o que faz a poesia? Por meio da poesia, o poeta/artista regressa a um mundo anterior ao mundo que conhecemos por meio da ciência. Trata-se de um mundo em sua pureza, em sua concretude, livre de conceitos, de pré-conceitos, de ideologias, de racionalismos.

A partir dessas considerações, podemos arriscar uma afirmação sobre a função da poesia: reencantar o mundo por meio da palavra poética.

Para encerrar, vai aqui um poema de Manoel de Barros:

MIRÓ
Para atingir sua expressão Fontana
Miró precisava de esquecer os traços e as doutrinas que aprendera nos livros.
Desejava atingir a pureza de não saber mais nada.
Fazia um ritual para atingir essa pureza: ia ao fundo do quintal à busca de uma árvore.
E ali, ao pé da árvore, enterrava de vez tudo aquilo que havia aprendido nos livros.
Depois depositava sobre o enterro uma nobre mijada florestal.
Sobre o enterro nasciam borboletas, restos de insetos, cascas de cigarra etc.
A partir dos restos Miró iniciava a sua engenharia de cores.
Muitas vezes chegava a iluminuras a partir de um dejeto de mosca deixada na tela.
Sua expressão Fontana se iniciava naquela mancha
O escuro o iluminava.



*Dalberto Teixeira é mestre em Literatura Brasileira e professor da FUNEC. (dalbertoprofessor@yahoo.com.br)



sexta-feira, 23 de agosto de 2013

PEÇA MOSTRA A FEMINILIDADE POR MEIO DE CONTOS








Peça mostra a feminilidade por meio de contos de sereia em Campinas

O espetáculo "O Canto da Sereia" será apresentado no Sesi Amoreiras, em Campinas  (Foto: Vitor Damiani)          
Montagem busca desconstruir a ideia de poder feminino de sedução. "O Canto da Sereia" será apresentado às 19h00min deste domingo no SESI.    

Inspirado nas interpretações dos contos de sereia de Nei Duclós e Franz Kafka, o espetáculo "O Canto da Sereia" será apresentado às 19h deste domingo (25) no teatro do Sesi Amoreiras, em Campinas (SP). A entrada é gratuita.

O Grupo das Excaravelhas mostra durante a encenação a manipulação feminina pelo poder de sedução e sobre os encantos ilusórios da sereia.

O espetáculo segue com a desconstrução deste poder do feminino, estimulando a reflexão sobre a sociedade contemporânea que prioriza a ilusão da imagem em detrimento ao desenvolvimento da existência humana. A classificação indicativa é de 10 anos e os ingressos serão distribuídos uma hora antes do início da apresentação.


Serviço:
O quê: Espetáculo "O Canto da Sereia"
Onde: Teatro do Sesi Amoreiras
Endereço: Avenida das Amoreiras, nº 450, no Parque Itália
Quando: às 19h deste domingo (25)


Fonte: G1 Campinas e Região

domingo, 4 de agosto de 2013

O "CONTO" NO BRASIL



O Conto no Brasil



Como narrativa oral o conto surge no Brasil trazido pelos portugueses, e até hoje é fortemente propagado, em diversas regiões do país. São as chamadas “estórias de Trancoso”.

Como narrativa escrita o conto surge na literatura Brasileira durante o início do Romantismo, mas os autores românticos não conseguiram se destacar através desse tipo de texto. O primeiro grande contista brasileiro, Machado de Assis, iria surgir no início do Realismo, e seu nome se tornaria consagrado pelo brilhantismo com que dominava as palavras.

Há algumas características que podem nos ajudar a identificar ou até mesmo a produzir um conto:
É uma narrativa linear e curta, tanto em extensão quanto no tempo em que se passa.
A linguagem é simples e direta, não se utiliza de muitas figuras de linguagem ou de expressões com pluralidade de sentidos.
Todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho.
Envolve poucas personagens, e as que existem se movimentam em torno de uma única ação.
As ações se passam em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito.
A habilidade com as palavras é muito importante, principalmente para se utilizar de alusões ou sugestões, frequentemente presentes nesse tipo de texto.

Além de fecundo na diversidade temática, os contos brasileiros são fecundos na produção. Talvez isso aconteça porque os contos produzidos no Brasil, principalmente a partir do modernismo, tem adquirido identidade própria e se manifestado das mais diversas maneiras, de modo que dificilmente são fiéis às características acima citadas.

Podemos até arriscar falar sobre alguns tipos de contos, como os contos alegóricos, os contos fantásticos, os contos satíricos, os contos de fadas, entre outros, mas não podemos traçar características fixas para eles, justamente devido a essa liberdade que os autores têm de imprimir novas características a cada conto que produzem.

Fonte: trecho extraído de texto publicado em http://www.infoescola.com/redacao/conto/

LIÇÃO SOBRE O CONTO



O conto é um texto narrativo centrado em um relato referente a um fato ou determinado acontecimento. Sendo que este pode ser real, como é o caso de uma notícia jornalística, um evento esportivo, dentre outros. Podendo também ser fictício, ou seja, algo resultante de uma invenção. 

No que se refere às origens, o mesmo remonta aos tempos antigos, representado pelas narrativas orais dos antigos povos nas noites de luar, passando pelos gregos e romanos, lendas orientais, parábolas bíblicas, novelas medievais italianas, pelas fábulas francesas de Esopo e La Fontaine, chegando até os livros, como hoje conhecemos. 

Em meio a esta trajetória, revestiu-se de inúmeras classificações, resultando nas chamadas antologias, as quais reúnem os contos por nacionalidade: brasileiro, russo, francês e por categorias relacionadas ao gênero, denominando-se em contos maravilhosos, policiais, de amor, ficção científica, fantásticos, de terror, mistério, dentre outras classificações, tais como tradicional, moderno e contemporâneo. 

Perfaz-se de todos os elementos que compõem a narrativa, ou seja, tempo, espaço, poucos personagens, foco narrativo de 1ª ou 3ª pessoa, corroborando em uma sequência de fatos que constituem o enredo, também chamado de trama. 

E um dos fatores de total relevância, é que o enredo apresenta-se de forma condensada e sintética, centrado em um único conflito. Tal característica tende a criar o que chamamos de unidade de impressão, elemento que norteia toda a narrativa, criando um efeito no próprio leitor, manifestado pela admiração, espanto, medo, desconcerto, surpresa, entre outros. 

Fazendo referência a toda estética textual, observaremos alguns fragmentos inerentes a uma das criações de um importante contista de nossa contemporaneidade, Dalton Trevisan: 


Apelo 


Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho. 

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, até o canário ficou mudo. Não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam. Ficava só, sem o perdão de sua presença, última luz na varanda, a todas as aflições do dia. 

Sentia falta da pequena briga pelo sal no tomate — meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa. Calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor.

Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola

VISÃO DE MACHADO DE ASSIS SOBRE O CONTO