sábado, 24 de agosto de 2013

PALAVRAS E IMAGENS

Palavras e imagens: as brechas


As palavras produzem imagens e as imagens produzem palavras. Ao fazermos a leitura de um texto escrito, conto, romance, poema, crônica, notícia de jornal, crítica literária, ou de outra tipologia textual qualquer, temos a capacidade de formar, em nosso cérebro, imagens mentais de personagens, de locais (espaços), de situações, de tempo cronológico ou psicológico etc. Através da leitura constante de obras e de textos (inclui-se também o hipertexto da cibercultura), temos a possibilidade de abstrairmos sobre diversos assuntos, de despertarmos a nossa criatividade, de ampliarmos o nosso vocabulário, de rechearmos de novidades os nossos horizontes intelectuais, principalmente, pela compreensão dos significados que as novas palavras produzem em nós e, ainda, em relação ao sentido que elas estabelecem nos vários contextos. Podemos, assim, refletirmos acerca de conflitos existenciais, psicológicos, sociais, econômicos e assim por diante.

Por outro lado, tudo que é passível de leitura constitui-se em um texto. Então, não necessariamente um texto tenha de passar unicamente pela língua escrita. A linguagem pode ser verbal ou não-verbal. As imagens nas revistas, nos filmes, na Internet, nos cartazes publicitários, na televisão, nos jornais, nas paredes, nos cenários teatrais, ou seja, em todos os locais onde apareçam, ficam sujeitas a muitas decodificações por todos nós. E é aí que entra aquela questão de aproveitar bem todos os momentos, para inferirmos a respeito das circunstâncias vividas e crescermos, aguçarmos a nossa maturidade, mesmo que isso venha a acontecer através de fatos negativos, que precisam ser re(elaborados) para darem novos sentidos à nossa existência. Ou seja, devemos ler tudo o que nos rodeia, ler a vida por si mesma.

Em relação às imagens, no momento em que as fixamos pelo olhar, formamos uma ideia a seu respeito e sintetizamos em nosso cérebro alguma informação sobre o seu conteúdo. Depois, para expressar aquilo que concluímos, utilizamos as palavras (falada ou escrita), fazendo a exteriorização de nosso pensamento, que não é neutro, nunca foi e jamais será, pois que ‘neutralidade’ é ‘mito’, e mito é construção histórico-cultural-ideológica. Por assim dizer, essas palavras serão e estarão sempre carregadas de ‘saber’ e de ‘poder’, num movimento recíproco de troca constante. As palavras têm poder, as imagens têm poder, nós temos poder, mas, para muitos, infelizmente, essa consciência do seu próprio poder não está atrelada à sua própria existência, e sim a cargos políticos, chefias de empresas e de instituições estatais em geral. Dessa forma, as pessoas transferem aos seus representantes, aos seus ditos ‘superiores hierárquicos', o seu poder para que eles cuidem delas e deste, neutralizando-o, imobilizando-as para a ação, para a mudança necessária. Essas palavras explicam o assunto de agora, e quantas imagens estamos formando a partir delas?

Está mais do que na hora de insurgirmos contra esse sistema de ‘palavras’ e ‘imagens’, desconectadas, que subtrai do ser humano a sua capacidade de auto-organizar-se e de gerenciar livremente a sua própria vida e o seu entorno. Somos escravos de uma sociedade totalmente consumista e alienante. Para que nos libertemos de crenças, tabus, heranças ideológicas que estão no imaginário do povo, teremos que aprender a fazer um exercício: o da desconfiança. Teremos que aprender a ler interpretando as palavras e as imagens, estejam onde estiverem. Mais do que isso, teremos que aprender a ler o que subjaz a essas palavras e a essas imagens, principalmente as dos anúncios publicitários e às das propagandas ideológicas (partidárias ou não). O que é bom não precisa ser anunciado publicitariamente, nasce de forma espontânea no calor das ações solidárias, no comprometimento com a felicidade do outro e com a de si mesmo. Brota com o ‘cuidado de si’ e com o cuidado do planeta.

Não é isso que observamos socialmente, entretanto nem tudo está perdido. Temos de formar resistências. O meu blog, Palavras e Imagens, através das palavras associadas às imagens e vice-versa, procura ter as funções metalinguística, sociolinguística, psicolinguística, ou seja, entre outras, a de explicar pelas entrelinhas dos textos os ideais de uma sociedade justa e fraterna. Eu, como professora de Literatura e recentemente ‘blogueira’, além de querer contribuir com o ‘encantamento do mundo’, preciso fazer o meu papel político, exercer o meu saber-poder em um espaço, que eu considero ser uma ‘brecha’, para lutar por uma sociedade libertária. Essa questão fica bem explícita através das temáticas que são abordadas em meus textos. Todavia, nunca fecharei nenhuma discussão, porque as respostas deverão ser encontradas por todos nós, que temos interesse em alterar este ‘estado de coisas’ que vivenciamos (individualismo, egoísmo, desumanidade), por meio de nossas ‘subjetividades’, como diz Foucault, e de acordo com a nossa bagagem cultural, experiências e sensibilidade, como digo eu.

Beijos a todos.

Tânia Marques

Nenhum comentário:

Postar um comentário